“Procrastinação não é preguiça, é medo.” Essa frase, da escritora Julia Cameron, é o pontapé inicial para um mergulho profundo na descoberta e entendimento do que está por trás desse comportamento que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro. Eu me arrisco a dizer que todos nós somos procrastinadores em, pelo menos, uma área da vida.
É comum confundir procrastinação com preguiça. Mas é importante deixar claro que são comportamentos bem diferentes. Na preguiça você não quer fazer nada. Na procrastinação você tira o foco do que precisa ser feito e substitui por alguma outra atividade mais prazerosa.
Pensa em alguma situação em que você precisou tomar uma decisão importante, mas por sentir medo ou insegurança deu um jeito de adiar tentando se convencer de que precisa de mais informação ou qualquer outra “desculpa” para seguir em frente? Isso te parece comum? É exatamente aí que está o gatilho para a procrastinação.
Medo, insegurança e procrastinação
Medo e insegurança são sentimentos que fazem parte da vida de todos nós. E são esses sentimentos que muitas vezes nos levam a adiar tarefas e decisões importantes.
Muitas tarefas, mesmo que sejam prazerosas, podem ser adiadas pelos procrastinadores pelo medo de falhar, por exemplo. Se você se sente inseguro por acreditar não ser capaz de realizar uma determinada tarefa é possível que tenha medo de não agradar, de não atender às expectativas, que podem ser suas ou de outras pessoas, ou até mesmo o medo de ter sucesso e não saber como administrar os desafios que virão junto com ele.
E, nesse ciclo vicioso do medo e da insegurança que levam à procrastinação, você acaba gerando mais um sentimento que deixa a situação ainda mais desafiadora: a ansiedade. Quanto mais você procrastina, mais ansioso fica por saber que o prazo para a entrega de um relatório está chegando, a data para finalizar um projeto está próxima ou até mesmo o deadline para tomar uma decisão importante está batendo à sua porta.
Por isso, é muito importante identificar o sentimento que está te impedindo de seguir em frente na realização de tarefas ou na tomada de decisão.
Ansiedade e baixa autoestima
A mente do ansioso é altamente fértil e costuma imaginar mil coisas antes mesmo delas acontecerem. E é por isso que uma pessoa muito ansiosa acaba sentindo mais medo e insegurança para realizar determinadas tarefas, pois cria “um mostro” para uma situação, que, muitas vezes, é simples de resolver. E é justamente por isso que pessoas muito ansiosas tendem a procrastinar tarefas que imaginam ser muito complexas por causa das historinhas criadas pelas suas mentes.
Outro sentimento que pode ser gatilho para a procrastinação é a baixa autoestima. Nesse caso a pessoa não se sente apta ou à altura para realizar algum trabalho, ocupar determinado cargo em uma empresa ou tirar o projeto dos sonhos do papel, por exemplo. E, por não acreditar na sua capacidade de realização, adia decisões e tarefas que são importantes na sua vida.
Se pensarmos bem, todos esses sentimentos são frutos do medo. Medo de não dar conta, medo de não atender às expectativas, medo de errar, medo de sofrer, medo de se frustrar e até mesmo, como já falei, o medo do sucesso.
Crenças nucleares: a origem
Ao longo da vida, principalmente nos períodos da infância e da adolescência, desenvolvemos crenças que nos levam a ter determinados comportamentos. Elas são chamadas de cresças nucleares. Essas crenças vêm de necessidades não supridas durante o nosso desenvolvimento. Além das necessidades básicas (as fisiológicas), podemos considerar também as de se sentir amado, reconhecido, pertencente e valorizado, por exemplo.
Quando uma ou mais dessas necessidades não são atendidas criam-se regras e pressupostos (crenças intermediárias) que viram verdades e que levam a pessoa a ter determinado comportamento.
Para exemplificar, imagine que você, quando era criança, ouvia seus pais / cuidadores dizerem que você era incapaz, que era lento, que não levava jeito para uma atividade, que só falava besteira etc. Então, ao longo do seu desenvolvimento, você acreditou no seguinte: “meus pais me criticam e me invalidam, porque eu não tenho valor” (crença de desvalor). Assim, é provável que em diversas situações ao longo da vida você sinta a necessidade de receber muitos elogios e reforços positivos dos outros para acreditar que tem valor. E, caso não receba esses elogios, sente-se desvalorizado e, consequentemente desenvolve problemas de autoestima.
E é a partir desse sentimento de baixa autoestima que a sua vida será pautada. É provável que suas atitudes e seu comportamento sejam sempre orientados pela insegurança gerada pela baixa autoestima. E são esses sentimentos que te levarão a procrastinar muitas tarefas e decisões por acreditar que não é capaz de realizá-las.
Gestão das emoções
A procrastinação está muito mais ligada às emoções mal geridas do que à falta de organização com relação ao tempo. Não é sobre tempo para realizar uma tarefa, mas sobre emoções não identificadas e não trabalhadas que te impedem de realizá-la.
Por isso é importante se autoobservar, olhar para dentro e perceber que sentimento está te levando a procrastinar para que você possa acolhê-lo e, enfim, trabalhá-lo.
O desenvolvimento da inteligência emocional pode ajudar muito nesse trabalho de gestão das emoções. Só podemos gerir o que conhecemos, não é? O primeiro passo é identificar a emoção. Não faça pouco caso, mesmo que acredite ser uma emoção “negativa”. Em seguida observe e entenda que tipo de influência ela tem sobre você. Isso normalmente se reflete no seu comportamento, e um deles é a procrastinação. Então aceite e valide a emoção para que possa geri-la com clareza.
Para prestar atenção e exercitar
Observe padrões. Eles normalmente mostram em que momentos acontecem a procrastinação e por qual razão.
Se organize, priorize e realize uma tarefa de cada vez. Procrastinadores costumam ir do 8 ao 80. Ou adiam as tarefas ou querem fazer tudo ao mesmo tempo para não dar espaço para a procrastinação.
Quando uma tarefa te assusta por ser grande ou muito trabalhosa, divida-a em partes menores. A finalização de cada etapa te trará bem-estar e sensação de realização. E assim você chegará ao final de forma mais leve.
Prepare o ambiente no qual vai trabalhar ou realizar alguma tarefa. Tire as distrações de perto e avise que não pode ser interrompido. Se for realizar uma tarefa monótona, que tal colocar uma música que te ajude a se sentir bem? Use sua imaginação para que a tarefa possa ser feita de forma mais prazerosa.
Detalhe as tarefas ao listá-las. A falta de clareza dá margem para que o cérebro preencha as lacunas “por conta própria”. Por exemplo, ao invés de escrever na lista “montar apresentação”, substitua por “pesquisar sobre o tema em sites especializados para buscar informações importantes e incluir na apresentação.”
A meditação é uma ótima ferramenta para te ajudar a desenvolver a concentração e o foco no momento presente, algo que para o procrastinador é bem desafiador.
Se perceber que a procrastinação virou um hábito que atinge várias áreas da sua vida, busque a ajuda de um psicólogo para te auxiliar no processo de identificação e regulação das emoções. Realizar esse processo sozinho pode ser um grande desafio. E aí, você corre o risco de procrastinar o autoconhecimento e prolongar o sofrimento.