Qual a sua relação com a comida?

15 de Junho de 2022

Você come para viver ou vive para comer? Essa é uma pergunta aparentemente boba, mas ótima para refletir sobre como você se relaciona com a comida.

A comida tem um papel importantíssimo em nossas vidas. Através dela, recém-nascidos criam os primeiros laços afetivos e, em torno dela, pessoas se juntam para confraternizar e comemorar ocasiões especiais. Ou seja, o alimento está presente em nossas relações e, portanto, tem um papel que vai além do nutricional, pois está ligado diretamente aos afetos. Conscientes disso, podemos através de um processo de autoconhecimento, entender como lidamos com a comida – se comemos ou deixamos de comer para compensar frustrações, suportar angústias e ansiedades. Só assim, nos tronamos capazes de criar uma relação equilibrada e saudável com a comida.

Estamos num momento em que somos bombardeados com ritmos frenéticos, modas e tendências que acabam influenciando a nossa saúde mental, física e espiritual. Portanto, quanto mais nos autoconhecemos, mais respeitamos os nossos limites e mais domínio temos sobre nós mesmos, o que nos permite fazer, conscientemente, melhores escolhas.

Sociedade atual

Temos testemunhado uma onda de imposição de padrões estéticos que leva as pessoas a desenvolverem uma relação doentia com a comida, assim como ofertas ou restrições de alimentos sendo apresentados com promessas de cura de forma generalizada. Se não estivermos atentos e razoavelmente equilibrados, facilmente naufragamos no mar de teorias em relação à tríade saúde-imagem-alimentação.

Por estarmos conectados emocionalmente à comida, não é de se estranhar os inúmeros problemas que estamos testemunhando na sociedade a nível mundial. Os transtornos alimentares crescem entre as pessoas e se tornam um fator preocupante. Em números, 50% dos brasileiros sofrem com sobrepeso.

Além do padrão e pressão social pela magreza, uma outra questão que afeta bastante a nossa relação com a comida é o fato de as refeições estarem cada vez mais curtas e impessoais. É muito comum passarmos uma refeição inteira olhando para o celular ou comendo apressados sem prestar atenção no que estamos comendo. Aliado a isso, a oferta de fast-foods e comidas processadas, por serem práticas e facilmente encontradas a qualquer momento, nos desviam de uma disciplina e qualidade de alimentação essenciais para a nossa saúde.

Alimentando-se de sentimentos

Cada pessoa carrega um histórico relacionado à comida. Da mesma maneira que alguém tem um afeto positivo com um determinado alimento, outra pessoa pode ter uma reação não muito boa com a mesma comida. Saber quais são aqueles que trazem gatilhos é um passo importante na reeducação alimentar. Podemos sim lidar com a alimentação de forma mais consciente, sem tanta culpa ou julgamento. A psicoterapia é uma grande aliada nesse processo de autoconhecimento.

Ao comermos algo gostoso, geramos uma onda de prazer no cérebro. Este registro de experiências prazerosas é um dos fatores emocionais mais identificados e é o que nos leva a ter relações mais fortes e positivas com a comida. Quando comemos por ansiedade, estresse ou culpa por engordar, estamos nos distanciando do papel que a comida pode ter em nossas vidas e negando essas emoções que não existem por acaso – todas trazem mensagens importantíssimas para o nosso crescimento pessoal. Isso abre um terreno propício para os distúrbios alimentares.

Construindo uma relação saudável com os alimentos

A comida não deve servir como uma anestesia para mascarar uma emoção ruim. Os alimentos, além de nutrir, servem também como forma de alegria e celebração. Por isso, é importante perceber quais emoções positivas você pode usar para ajudar na maneira como você se relaciona com a comida.

Ao clarearmos a percepção que temos sobre a relação afeto-comida, mais condições temos de torná-la leve e prazerosa, lembrando de honrar o corpo e suas necessidades, tornando-nos, assim, autorresponsáveis pela nossa alimentação e a “digestão” de nossos sentimentos.

Muitas vezes criamos uma relação ruim com a comida por causa da forma como ela foi introduzida em nossa criação. E, muitas vezes, vem de um ato de amor. É comum, por exemplo, vermos crianças chorando e adultos lhe oferecendo uma comidinha ou um docinho para deixá-las mais feliz, porque não suportam vê-las tristes. E por aí vai... Podemos comer ora porque estamos cansados, ora para lidar com nossas emoções e até mesmo pela falta de algo que nos dê mais prazer.

Como vimos, o ser humano não se alimenta apenas para sobreviver e a relação que temos com a comida é permeada de afetos, tendo uma alta significância social. Apostar em uma relação saudável com a comida é uma maneira de cuidar da saúde em geral, tanto física quanto mental. Mas isso nem sempre é fácil, pois há uma série de relações complexas entrelaçadas. Portanto, ter informações referentes ao que é uma boa prática alimentar e saber quando é necessário buscar ajuda, é indispensável.