As expectativas dos outros não são problemas seus

10 de Agosto de 2022

Nós como seres humanos estamos sempre nos relacionando com outras pessoas. Isso é um dos fatores que nos leva, desde muito jovens, a querer agradar todas à nossa volta. Quando crianças, aprendemos a dar aos nossos pais aquilo que eles esperam, isso acontece também com nossos irmãos, professores e amiguinhos de escola. Além desse relacionamento com as pessoas que são mais próximas, também enfrentamos questões esperadas pela sociedade, como por exemplo, meninas têm que ser boazinhas e meninos valentões.

A questão central não tem a ver com querer agradar aqueles que nós amamos, mas sim quando deixamos de lado a nossa essência para fazê-lo. Muitas vezes, acabamos deixando de lado as nossas próprias vontades para construir relacionamentos harmônicos e pacíficos. Em casos extremos, muitas pessoas acabam negligenciando necessidades fundamentais, com o simples intuito de não gerar atritos e estar de acordo com o que todo mundo espera. Mais importante do que construir relações boas com os outros, é importante termos essa mesma preocupação com nós mesmos.

Um dos maiores psicanalistas de todos os tempos, Alfred Adler, realizou pesquisas sobre essa problemática. Alguns de seus estudos se baseavam nas seguintes questões: Como se libertar da opinião dos outros? Como superar as limitações impostas pela relação com o outro? Como se tornar a pessoa que se deseja? Como cultivo a minha personalidade única, construo minha autorrealização, sem ferir o outro e sem me sentir marginalizado? E o mais difícil: Como fazer tudo isso, apesar do outro?

Muitos dos problemas que temos como indivíduos, ou seja, com nós mesmos, são frutos dessa relação com o outro. Para Adler, o complexo de inferioridade, autoestima baixa, sentimentos de impotência, injustiça, desaprovação, inadequação, sentimento de não pertencimento… e tantos outros, tem a ver com a forma que lidamos com essa aprovação em relação ao outro. Nos frustramos quando não somos reconhecidos por aquilo que fizemos justamente para agradar o outro. Sentimos ingratidão quando não recebemos a recompensa por fazer algo que achávamos que os outros queriam.

Quando nos sentimos distantes das pessoas corremos para o mecanismo mais simples: queremos agradar. E são nesses momentos que acabamos indo contra a nossa própria natureza. Em um mundo extremamente conectado, com tamanha exposição, querer a aprovação do outro ganhou ainda mais importância. Compartilham-se ideias, informações, momentos de vida privada, vídeos, fotos… com o único objetivo de ganhar a aprovação dos outros.

O número de seguidores, curtidas, comentários, número de amigos no facebook… são informações que deixamos nos controlar. Isso nos abala de forma negativa, afetando nossa autoestima. Achamos que esses números são o indicativo de como estamos sendo aceitos ou não pelos outros. Deixamos de compartilhar o que gostamos, para postar o que achamos que as outras pessoas querem ver.

E como tudo tem os dois lados da moeda, da mesma forma que queremos agradar os outros, acabamos também esperando que eles façam a mesma coisa. Esperamos que as pessoas se comportem de uma certa maneira, e acabamos surpreendidos quando as expectativas não são supridas. Quando sentimos que uma gentileza não foi devidamente agradecida, acabamos ressentidos e decepcionados.

O mundo vive em uma constante busca por reconhecimento. Esperamos que nos agradeçam como deve ser, que apreciem o que foi feito, que deem valor ao nosso trabalho, que retribuam um favor… Quando isso não acontece, costumamos levar para o lado pessoal e entrar em sofrimento.

Na nossa sociedade moderna, muitos dos relacionamentos só funcionam como moedas de troca, nos quais as pessoas dão algo esperando serem retribuídas de alguma forma. De acordo com Adler, "quando uma relação se baseia na recompensa, há uma voz interna que diz: eu te dei isto, você tem que me devolver aquilo”. Esse é o princípio da maioria dos conflitos que nós enfrentamos hoje em dia, pois a noção do que se dá e do que se recebe é muito pessoal. Tendemos a achar que damos mais do que recebemos, e a conta acaba não fechando.

Não agradar e não ser agradado faz parte. O que devemos entender é que cada pessoa tem seu valor e age de acordo com eles. E mesmo pessoas que têm crenças parecidas vão pensar e agir de forma diferente. Quem vive levando tudo para o pessoal acaba nunca encontrando a paz. Não existe prisão maior do que buscar a aprovação do outro. Acabamos escravos de algo que não podemos controlar.

Com o intuito de não decepcionar, deixamos de ser quem somos e de fazer o que nos traz felicidade. A liberdade se dá quando podemos agir espontânea e genuinamente. O caminho para a serenidade e paz de espírito é entender que as únicas expectativas que devemos satisfazer são as nossas próprias e olha lá. É entender que os outros só podem esperar de você o que ficou acordado entre vocês, caso contrário, qualquer outro tipo de expectativa diz respeito a quem a possui e não a você.

O autoconhecimento proporcionado pela psicoterapia permite que você viaje para dentro de si e descubra que para ser amada (o), não é preciso sair agradando a gregos e troianos - coisa impossível, por sinal. E sabe por quê? Porque quando agradamos ou somos agradados esperando algo em troca, não estamos falando do nosso Ser e, sim, das necessidades e carências do nosso Ego. Então, no fundo, não nos sentimos verdadeiramente amados. Já quando aceitamos e nos expressamos através de nossas essências, aí sim, tudo flui maravilhosamente.

Se você não se sente uma pessoa digna de ser amada ou não consegue se sentir amando, você precisa se libertar das crenças limitantes que te bloqueiam e te impedem de ser quem você é.

Não há Ser que não seja amável. Você é digna (o) de dar e receber amor. Acredite nisso!!

Autoconhecimento já!