Quando falamos da criança interior, estamos nos referindo a uma parte da nossa mente que aprendeu a se comportar devido a experiências passadas nos primeiros anos de vida. De algumas, temos consciência, mas a maioria se encontra inconsciente em nosso cérebro. Carregam sonhos, momentos de alegria e entusiasmo, mas também necessidades não satisfeitas, medos, opressões e repressões sofridas.
Em muitos momentos de nossas vidas, o que não foi resolvido em relação à nossa criança ferida, afeta diretamente a nossa percepção do mundo e, consequentemente, o nosso comportamento.
Ao longo de nossos primeiros anos, precisamos de adultos que nos guiem e nos ensinem a nos expressar e dizer como estamos nos sentindo. Mas, muitas vezes, eles não têm condições de assim serem, pois também costumam carregar dentro de si seus próprios traumas, impedindo-os de escutar as necessidades reais de seus filhos.
Todos nós crescemos tendo que nos adaptar à realidade em que vivemos. Queremos agradar nossos pais por dependermos deles. Por isso, acreditamos que devemos nos tornar quem eles querem que sejamos para sermos aceitos. E rejeitamos partes importantes do nosso ser por sentirmos que não estamos de acordo com o que eles pensam e esperam sobre nós.
Traumas da criança interior
As situações dolorosas que experienciamos, principalmente em nossa infância, não desaparecem magicamente. Muitas das emoções não resolvidas e necessidades não atendidas existem dentro de nós até hoje e influenciam a maneira como vivemos e enxergamos o mundo.
Alguns dos sintomas principais de uma criança interior traumatizada são: medo de abandono nos relacionamentos; dificuldade em aceitar críticas; não lidar bem com mudanças; baixa autoestima; imagem corporal distorcida; medo de se expressar; dificuldade em dizer não; sentir-se responsável pela emoção dos outros... Acontecimentos em nossa infância podem fazer com que esses fatores venham à tona em diversas situações durante nossa vida adulta.
Referências adultas na infância
É normal que as crianças levem com absoluta verdade o que os adultos mais próximos dela falem. Pais, professores, avós, familiares e outras referências importantes acabam tendo uma influência enorme no que a criança escuta e leva como regra em sua vida. Contudo, nem tudo que escutamos nessa fase é positivo, muito menos, uma verdade.
Muito do que escutamos, se transforma em crenças que nos limitam e que nos desconectam da nossa essência. E, na maioria das vezes, não percebemos o quanto isso afeta o nosso presente. Descartamos o passado, e continuamos no ciclo em que nossa criança interior não é ouvida.
Como escutar a sua criança interior
É possível que nesse momento a sua criança interior esteja “gritando”, mas você não tenha se dado conta, porque aprendemos a negar o que a nossa intuição nos diz, a duvidar do que sentimos e a ter medo de acessar aqueles sentimentos não muito prazerosos. Por isso, para que tenhamos uma relação saudável com essa parte inconsciente de nós mesmos, é importante validar o seu interior.
Podemos achar perda de tempo, ou uma bobagem focar nesse processo. Mas a forma com que nós ouvimos e vemos essa criança interior pode ser a solução para entendermos diversos fatores que não vão bem em nossas vidas, ou padrões que se repetem e que aparentemente não conseguimos nos livrar.
Trabalhar a nossa criança interior é construir empatia por nós mesmos e pelos outros. Quando damos espaço para a nossa criança interior, aceitamos também que nossos pais têm questões a serem resolvidas com eles mesmos. E de certa forma conseguimos até perceber questões que outras pessoas têm manifestado por conta de seus próprios traumas na infância.
Acessando nosso inconsciente
Existem algumas maneiras de se conectar com a sua criança interior. A meditação pode ser um caminho ótimo para acessar a sua criança interior. Procure um lugar tranquilo sem muitas distrações. Foque na sua respiração e comece a relembrar memórias de sua infância. Passe um tempo acessando essas lembranças e veja como você se sente. Caso tenha dificuldade em acessar essas informações use imagens para te auxiliar.
Algumas frases podem ser importantes para te ajudar a acessar melhor esse seu lado inconsciente. Diga a você mesmo o que sempre quis ouvir quando era uma criança! Seguem alguns exemplos para você usar quando estiver no processo de aceitação da criança interior:
- Meus pais também têm seus traumas, por isso eu devo perdoá-los;
- Eu sou seguro sendo eu mesmo;
- Eu não preciso ser o que não sou para agradar os outros;
- Eu estou seguro agora;
- Não tem problema sentir medo;
- Eu me amo e eu me aceito.
É importante ressaltar também que no caso de alguns traumas a ajuda de um profissional pode ser indicada. Se as memórias forem muito difíceis de acessar ou causarem muita dor, a psicoterapia pode ser uma ótima ferramenta para te ajudar a entender e lidar com a sua criança interior.
Precisamos ter paciência e aceitar que muito do que passamos hoje é um reflexo do que nos foi tirado quando éramos pequenos. Por isso exercite o seu inconsciente, se permita vivenciar o que você sempre quis. Se a sua criança interior está querendo sair para brincar, deixe, desperte-a e liberte-a!