Compartilhar histórias, novidades e informações, quem nunca? E o que estaria por trás deste comportamento?
O maior motivo de estarmos frequentemente compartilhando é o fato de sermos naturalmente sociais. Fomos programados para viver em relação. Com o avanço da tecnologia, passamos a nos relacionar intensamente através das várias plataformas virtuais. Elas facilitaram e superdimensionaram a conexão entre as pessoas, seja ela saudável ou não. Fomos testemunhas do quanto elas ajudaram a diminuir o impacto causado pelo isolamento social, durante a pandemia do Covid-19. Apesar de virtuais, foi um meio buscado intensamente, por todo o mundo, inclusive, para lidar com a solidão, depressão, ansiedade e estresse gerados pelo lockdown.
Outro motivo para querermos compartilhar seria o senso de identidade, que nos faz querer projetar para o mundo uma determinada versão de nós mesmos. Em um estudo feito pelo The New York Times, 68% dos entrevistados contaram que compartilham para dar aos outros um melhor senso de quem são e de seus valores. Temos uma maneira de ser no nosso íntimo e outra que escolhemos mostrar ao mundo. Costumamos promover comportamentos que nos deixem mais perto daquilo que queremos aparentar, seja através de campanhas, fotografias, vídeos, pensamentos ou músicas.
Pesquisadores também acreditam que um dos principais objetivos que nos levam a compartilhar é querermos nos sentir parte de algo maior. Ainda no estudo realizado pelo The New York Times, foi dado a um grupo de jovens uma atividade no Facebook em que eles deveriam engajar como normalmente fazem em suas redes sociais. No entanto, o que eles não sabiam era que não receberiam absolutamente nenhum retorno. Todos os comentários foram deixados completamente sem resposta e todas as postagens compartilhadas desprovidas de "curtidas". No final do estudo, os participantes relataram terem experimentado efeitos negativos significativos em sua autoestima e sensação de bem-estar, uma vez que não se sentiram vistos e aceitos.
Na pesquisa também foi relatado que o cyberbullying não é o único impacto negativo das mídias sociais nas crianças. A pressão para angariar “curtidas” e elogios também prejudica o humor e a autoestima da criança. Quando ela não recebe o retorno desejado, ou sente uma sensação de pressão para postar “conteúdo certo”, essa pressão ou estresse pode causar ansiedade e provavelmente afetará negativamente sua autoestima. Infelizmente, essa questão abrange todas as idades. Muitas pessoas se sentem validadas ou não pelo número de “curtidas” que recebem por algo que postam nas redes sociais.
Infelizmente, assim como trouxeram benefícios para a conexão entre as pessoas, essas multiplataformas digitais também geraram patologias, uma vez que foram utilizadas como referências na vida de muitos, distanciando-os de si mesmos, de suas essências.
A arte de compartilhar pode e deve ir muito além do desejo de se conquistar likes. Pode ser direcionada a expandir conhecimentos, descobertas, a levar alegria, a promover reflexões, a criticar, a aprender e a unir pessoas em torno de um objetivo saudável para a mente, o corpo e o espírito. Quando compartilhamos, queremos no fundo ser incluídos, aceitos, reconhecidos e amados. Logo, fuja daquilo que é uma ilusão como, por exemplo, comparar sua vida com as que aparecem nas redes. Foque na sua! A sua existência, com certeza, traz muitos valores a serem compartilhados. E lembre-se de compartilhar, o máximo que puder, olhando nos olhos de alguém, presencialmente. Aí sim, você encontrará um retorno muito mais próximo da realidade.
O poder de escolher o que quer ver e como quer se expressar é seu. Lembre-se, também, de que tudo o que é oferecido com generosidade e amor, é sempre bem-vindo. Use e abuse disso! O mundo agradece.