É natural associarmos memória a cérebro, afinal, é nele que estão os circuitos responsáveis por tudo o que registramos durante a nossa existência. Mas a memória pode ser acessada por várias maneiras, inclusive pelo corpo. Nem todos os registros são de fácil acesso, ou porque não precisamos mais deles ou porque são resultados do que nos causaram dor. Quando sofremos traumas, é comum que eles sejam deixados de lado, como diria Freud, recalcados, para que possamos seguir adiante. Esse é um ato genial de autoproteção.
A todo momento recebemos estímulos através dos nossos sentidos que afetam diretamente o corpo, desde a nossa vida intrauterina. Ao nascermos, não possuimos linguagem verbal e dependemos de cuidadores que sejam capazes de fazer uma boa leitura das nossas expressões corporais, para que possamos receber aquilo que nos mantêm vivos. Ao crescermos, a tendência é deixarmos de prestar tanta atenção no corpo, assim como na respiração, pois parecem funcionar no automático.
Mas o corpo continua sentindo. O corpo continua falando, chega até mesmo a gritar quando percebe que não lhe estamos dando a devida atenção. Na maioria das vezes, ele avisa o que está por vir, mas costumamos lembrar da sua importância ou nos preocuparmos com ele quando algum obstáculo surge atrapalhando o seu funcionamento. Antes de uma gripe, por exemplo, o corpo dá sinais de cansaço e perda de energia – mensagem: “preciso de repouso, pausa”; se a ignoramos, adoecemos sendo obrigados a parar e a nos cuidar.
O corpo e as emoções
A doença e a dor são formas de o corpo chamar atenção para as nossas necessidades não satisfeitas. Essas necessidades não se resumem somente à maneira como o tratamos fisicamente, mas também a um reflexo de como lidamos com as nossas emoções. Quando não damos vazão a elas, quando as inibimos ou as negamos, o corpo é diretamente afetado e logo tenta nos alertar. Seus pontos de tensão indicam que precisamos olhar para a forma como estamos vivendo. Preocupação excessiva, medos, estresse, tristeza, ansiedade, tudo pode ser detectado através do corpo, assim como prazeres, alegria e serenidade. Corpo e emoções são presentes que precisam ser bem cuidados por nós, para que o nosso potencial de criação e produção possa se expandir.
A importância de se autoconhecer
O corpo é memória viva da nossa história. Ele tem muito a nos dizer. Para isso, é preciso voltarmos a prestar atenção nele e perceber o que ele nos pede.
Somos um sistema onde tudo se interliga – físico, mental, emocional e muito mais. Para que funcione bem, precisamos de atenção e manutenção constante. Esta percepção e habilidade conseguimos através do autoconhecimento. Afinal, como mudar ou aprimorar aquilo que não se conhece?
Ao nos conhecermos, temos a oportunidade de rever e escrever a nossa história com consciência e autorresponsabilidade; e de criarmos condições de gerir nossas vidas com muito mais prazer e leveza. Como confirmar se estamos nessa direção? O corpo, certamente, nos dirá.