Depressão não é mimimi

16 de Junho de 2021

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é a doença mais incapacitante do mundo e a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. E mesmo diante dessa informação, menos da metade dos diagnosticados está em tratamento.

No Brasil, segundo o psiquiatra Michel Haddad, professor do departamento de psiquiatria da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), são 12 milhões de pessoas sofrendo de depressão.

Considerando a definição do DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), pessoas com depressão sofrem de tristeza recorrente durante um longo período (acima de 2 semanas) com sensação de vazio, desesperança, falta de interesse e de prazer na vida, alterações de sono e de apetite, redução da libido, agitação ou retardo motor, fadiga, sentimento de culpa constante, sensação de inutilidade e inadequação, dificuldade de se concentrar, de refletir e de pensar sobre si, desejo de dar fim à vida, ideação suicida.

Quando se olha para alguns desses sintomas separadamente, nota-se que muitos deles são fenômenos naturais da vida em uma sociedade que impõe cada vez mais velocidade para atingirmos um sucesso padronizado.

E diante disso, como saber separar o que é depressão do que é condição de “estar vivo”?

Responder a essa pergunta é uma tarefa desafiadora se considerarmos que a maior parte das pessoas tem uma grande incapacidade de lidar com o sofrimento. A maioria delas, ao entrar em contato com a dor, seja ela qual for, busca alguma forma de mascara-la através de entorpecentes, que podem ser medicamentos ou drogas. E assim, perdem a oportunidade de se abrirem para uma maior compreensão sobre si e sobre seus processos.

É muito importante que você esteja atento aos seus processos para evitar tanto a banalização de uma doença como a depressão, que precisa ser cuidada com seriedade, quanto a patologização de eventos que são produzidos socialmente e que fazem parte da nossa história de vida e da nossa sociedade.

Depressão e tristeza – entendendo a diferença

É muito comum associar a tristeza a um estado depressivo. E a tristeza é sim um dos sintomas que deve ser considerado no diagnóstico de depressão. Mas é preciso ter um olhar atento e cuidadoso para saber identificar o que é uma tristeza relacionada a um evento específico, como o término de uma relação ou uma demissão, por exemplo, e uma tristeza generalizada e associada a outros sintomas como uma falta de prazer prolongada e muito intensa, uma irritação e uma falta de paciência constantes; mas, principalmente, ao quanto a pessoa se considera incapaz, inadequada, indigna e culpada pela situação que vive.

A nossa sociedade tende a estereotipar e a considerar uma depressão apenas quando a pessoa está naquele estado letárgico, chorando e sem conseguir levantar da cama. Mas, a depressão tem várias nuances e formas diferentes de manifestação.

São vários os fatores que influenciam na manifestação dos sintomas da depressão. Um deles é a idade. As manifestações serão diferentes de acordo com a capacidade neurológica, cognitiva e afetiva que temos para lidar com questões que se apresentam em nossas vidas. Por isso, crianças, adolescentes, adultos e idosos podem manifestar a depressão de formas bem diferentes. Outros fatores que podem influenciar na forma como a depressão se apresenta, são o gênero, a raça e a classe social do indivíduo.

A pandemia e a depressão

Segundo uma pesquisa realizada pela USP em onze países, o Brasil lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia.

A mudança brusca de rotina e a incapacidade da maioria das pessoas em lidar com eventos que estão totalmente fora de controle, influenciaram diretamente em sua saúde mental.

Esse fato leva a uma reflexão sobre o quão distante as pessoas estão dos recursos que se encontram dentro delas próprias e o quanto buscam soluções para os seus desafios do lado de fora.

Com as restrições e o isolamento impostos pela pandemia, muitas pessoas tiveram que lidar com a ansiedade e com o medo gerados pelas incertezas relacionadas à doença e às suas consequências em diversas áreas da vida. Em decorrência disso, houve um aumento do consumo de álcool e de cigarros, enquanto o número de pessoas que realizavam atividades físicas caiu consideravelmente. Isso mostra claramente a dificuldade que a maior parte das pessoas têm em fazer escolhas conectadas com sua essência e que tragam o equilíbrio necessário para lidarem com as adversidades.

O processo de autoconhecimento como aliado

É muito importante dizer que a depressão é uma doença que muitas vezes tem componentes genéticos que, aliados a fatores externos como o estresse, por exemplo, aumentam as chances de aparecimento do transtorno ao longo da vida. Mas, isso não é determinante para o desenvolvimento da doença. Essa informação serve apenas de alerta para que pessoas que têm familiares próximos que apresentam ou já apresentaram quadro de depressão, fiquem mais atentas e redobrem os cuidados.

Ao identificar alguns dos sintomas já citados aqui, busque ajuda de um psiquiatra, que é o profissional habilitado para diagnosticar e tratar o transtorno.

O autoconhecimento pode ser um grande aliado tanto na prevenção da doença como no tratamento, potencializando seus resultados.

O acompanhamento de um psicólogo é essencial para te ajudar no processo de autoconhecimento e no fortalecimento da autoestima, necessários para lidar com a sensação de inadequação e inutilidade que acompanham o estado depressivo.

A respiração consciente e a meditação podem te ajudar a sair do estado de sofrimento e a voltar para o seu eixo em momentos de estresse. Além de melhorar o sistema imunológico e aumentar a capacidade de atenção, muitas vezes afetados pela depressão.

Exercícios físicos são excelentes aliados no tratamento da depressão. Ao se exercitar, você libera substâncias como a endorfina no cérebro que aumentam a sensação de bem-estar e prazer, que costuma desaparecer na pessoa deprimida.

Busque uma rede de apoio que te fortaleça. Nesse momento é importante ter pessoas empáticas por perto, que não se limitem a dar palpites, mas que estejam dispostas a te escutar com atenção e carinho genuínos.

Alimente-se adequadamente. Uma boa alimentação pode ajudar a produzir mais serotonina, um neurotransmissor produzido pelo cérebro, que proporciona a sensação de bem-estar, regulando o nosso humor.

Lembrando que nada disso substitui o tratamento da doença com a intervenção medicamentosa, mas que pode complementar e trazer muitos benefícios para um processo mais leve e uma vida mais feliz.