A luta por conquistas ao longo da história pode, por muitas vezes, ter deixado passar despercebida a importância que as mulheres representaram para a humanidade desde a Pré-História. Tendemos a acreditar que o sexo feminino sempre foi tratado como inferior, frágil e, muitas vezes, incapaz de desenvolver determinadas atividades, que em algum momento foram estereotipadas como masculinas.
Porém, existem registros de que muitas das invenções daquela época foram realizadas por mulheres. É o caso da agricultura, por exemplo, que foi inventada por mulheres, que também realizavam o trabalho mais duro do cultivo. Essa descoberta foi constatada na análise e comparação de ossos de mulheres e homens de sociedades agrárias neolíticas. Segundo Gordon Childe, que criou o termo Revolução Neolítica (termo que denominava a passagem da coleta para a domesticação de plantas e animais), foram as mulheres as grandes responsáveis pelo passo decisivo para que essa transformação acontecesse. Além disso, é atribuído às mulheres a criação de diversas ferramentas e outros objetos que surgiram depois.
Algumas curiosidades sobre as mulheres da antiguidade
No Egito Antigo as mulheres eram altamente respeitadas e tinham espaço para viverem suas próprias vidas e fazerem suas escolhas em muitas áreas.
Conforme citado por Joelza, no artigo Mulheres ao longo da História, “na sociedade egípcia, masculino e feminino não eram categorias em oposição, mas complementares. Ao se casar a mulher egípcia mantinha o seu nome, no máximo acrescentava “esposa de fulano”. O casamento encarnava a vontade de um homem e uma mulher de viverem juntos, o que não impedia (mas também não exigia) a existência de um contrato de casamento no nível material. O divórcio era uma decisão do casal e não um assunto a ser resolvido judicialmente.”
Nessas culturas as mulheres ascendiam ao poder e desenvolviam conhecimentos, exerciam autoridade em diversas profissões, como a medicina, e ocupavam cargos importantes além dos tronos no Egito.
(Re)Conquistas das mulheres
Essas informações nos levam a refletir sobre a existência de um gap ao longo da história no qual as mulheres perderam voz. E é bem provável que durante todo esse tempo a interpretação dos fatos tenha sido enviesada para desvalorizar a mulher e enaltecer o homem.
Quanto tempo levamos para reconquistar o lugar que já era nosso desde os primórdios? Passamos por muitas humilhações e vivemos enclausuradas em vidas que não escolhemos ter já que o patriarcado escolheu por nós.
Algumas das grandes conquistas das mulheres só aconteceram a partir do século XIX. Foi o caso do direito de cursar faculdade no Brasil, em 1879. E mais de 50 anos depois, em 1932, é que conquistamos o direito de votar. Em 1977 a lei do divórcio é aprovada. E somente em 1988, há somente 33 anos atrás, a Constituição Brasileira reconhece as mulheres como iguais aos homens.
O caminho de volta
Passamos séculos apenas sobrevivendo e entregando às rédeas das nossas vidas nas mãos de uma sociedade patriarcal, que determinava com quem iríamos nos casar, em tempos remotos, até as condutas que devemos ter, atualmente.
Quantas crenças introjetamos e acreditamos serem verdadeiras, quanto peso carregamos durante tanto tempo sem sequer questionar se era nosso! Sexo frágil? Vamos relembrar o significado de frágil? Segundo o Michaelis online, “que se rompe ou quebra com facilidade; rúptil; de pouca resistência; que não tem solidez”.
Depois de tudo o que já vivemos e conquistamos ao longo da história, continuaremos acreditando que somos frágeis? Que somos incapazes de realizar os mesmos feitos que os homens? Nós somos capazes de realizar o que quisermos! Não é uma questão de competência, mas de limitações que nós mesmas nos impomos por acreditarmos na história que nos contaram a vida inteira. E a história se repete desde a nossa ancestralidade.
Já é tempo de fazer o caminho de volta e resgatar, não apenas o que já vivemos lá na pré-história, mas também o que já existe dentro de cada uma de nós como essência. Porque de nada adianta tantas conquistas externas se continuarmos Carregando crenças limitantes de que não somos boas o suficiente, que precisamos realizar sempre mais para sermos valorizadas, que é “normal” termos mais afazeres, que precisamos provar nossa inteligência e muitas outras falácias que repetimos em nossa mente sem darmos conta.
O caminho é para dentro. Nada pode determinar o que é SER mulher do lado de fora. Ser mulher é existir com toda a nossa essência, com o que nos faz sentir e consequentemente, o que faz sentido. As escolhas são nossas e não devem nos colocar em nenhum padrão que foi criado para nos controlar e nos limitar.
E não basta levantar a bandeira do feminismo, é preciso reforçar o feminino dentro de nós para que o discurso não seja vazio. De nada adianta materializar conquistas do lado de fora sem estruturar alicerces do lado de dentro, sem acreditar e viver integralmente o que se diz. Afinal, nós não queremos destaque, queremos equidade. Não queremos vencer, queremos colaborar. Porque o mundo precisa de humanidade. E humanidade é a condição essencial de qualquer ser humano.