A mulher contemporânea

17 de Março de 2021

Será que nós, mulheres modernas, usufruímos da liberdade que tanto lutamos para conquistar? Sabemos que muitas das conquistas que vivemos hoje e que nos parecem tão naturais, como por exemplo, poder frequentar uma universidade ou votar, só existem porque algumas mulheres da nossa história foram incansáveis em lutar por elas. Mas sabemos também que junto com essas conquistas veio o acúmulo de funções e, consequentemente, a sobrecarga.
Percorremos uma longa estrada e desbravamos caminhos que não imaginávamos ser possível, mas trouxemos junto, na bagagem, o peso das funções que nos foram impostas e das quais ainda não conseguimos nos libertar completamente.

O desafio das escolhas e o equilíbrio

Escolhas nos colocam, quase sempre, em encruzilhadas. E nós mulheres muitas vezes vivemos situações que dificultam ainda mais essas escolhas.
Queremos usufruir de tudo pelo que tanto lutamos, queremos escolher e nos dedicar às nossas profissões, queremos igualdade de gênero, queremos ter lugar na sociedade da mesma forma que os homens têm. Mas queremos também o tão sonhado equilíbrio. Será que ele existe? Eu adoro consultar o significado e a etimologia das palavras. A palavra equilíbrio vem do latim, “aequilibrium”, palavra formada pelo adjetivo “aequus” (igual) e “libra” (balança). Ou seja, nível igual das balanças. Equilíbrio não significa viver sempre na mais perfeita ordem em todas as áreas da vida, mas poder ter a tranquilidade de contar com um olhar menos exigente sobre nossas tarefas, sobre nosso comportamento e sobre o que é esperado de nós.
A mulher vive há milênios precisando provar o seu valor em tudo o que faz para ser reconhecida. Esse comportamento plantou em nós a crença de que precisamos executar todas as tarefas de forma impecável, sem falhas e sem erros. O que é humanamente impossível! E quando não conseguimos, nos sentimos culpadas, impotentes e muitas vezes duvidamos da nossa capacidade de realizar. Somos vistas como seres multitarefa. E carregamos esse estereótipo sem questionar e acreditando ser uma grande qualidade.
Dessa forma, escolher fica ainda mais desafiador, já que acreditamos que podemos realizar todas as tarefas e, muitas vezes, temos dificuldade de pedir ajuda e de dividir as atividades.

A Síndrome da Impostora

Ouvi esse termo outro dia e fez muito sentido para explicar o que vivemos no universo feminino. O que ele significa? Sabe aquela voz que ecoa em nossa mente dizendo que não sabemos o suficiente, que não estamos preparadas, que questiona “quem sou eu para fazer tal coisa”? É exatamente essa voz que caracteriza a síndrome da impostora, que nos leva à autossabotagem e à não realização de muitos sonhos, que continuam apenas no plano das ideias.
Se pararmos para refletir e acreditarmos em nosso potencial entenderemos o quanto já realizamos e o quanto ainda podemos realizar.
A nossa mente tende a focar sempre no que não foi realizado, mesmo que as realizações tenham sido muito maiores. E assim vamos alimentando a impostora que mora em cada uma de nós.

Mulher Maravilha ou maravilha de mulher?

Mulher Maravilha: esse é um termo que se tornou comum quando falamos das mulheres. E nós o recebemos como um belo elogio. Mas será mesmo que queremos ser Mulher Maravilha? Talvez essa seja uma forma distorcida de nos sentirmos enxergadas e valorizadas por uma sociedade patriarcal que nos coloca em uma posição de poder, que não é real, que só serve para nos exigir ainda mais desempenho e uma perfeição que não existe.
Eu prefiro acreditar que podemos ser “uma maravilha de mulher” com todos os nossos defeitos e nossas qualidades; com as escolhas que nos levam à nossa melhor versão, com a aceitação de que não podemos abraçar o mundo, mas que podemos ser abraçadas por ele do jeito que somos, ocupando o espaço que é nosso, no qual podemos viver toda a nossa potência nessa nova Era que se apresenta. Essa é a real liberdade!

A nova Era e a importância do equilíbrio das energias feminina e masculina As transformações que estamos vivendo no mundo nos mostra cada vez mais a importância do equilíbrio das energias feminina (yin) e masculina (yang) em nossas vidas. O patriarcado, que é o símbolo da energia masculina em desequilíbrio, nos colocou nesse contexto de divisão de gênero, que impossibilita o desenvolvimento de características importantes das duas energias para vivermos na integralidade do ser.
A luta pela ocupação do nosso espaço no mundo não pode ser contra os homens, pois nesse caso, continuaríamos no desequilíbrio da nossa energia yang, mas a nosso favor, entendendo que com amor, generosidade e colaboratividade (yin) por um lado, e ousadia, dinamismo e liderança (yang) por outro podemos caminhar juntos e com equilíbrio, independente das adversidades.