No trabalho, anos atrás, uma colega ao meu lado se levantou da cadeira desesperada dizendo que não conseguiria entregar a tempo sua parte no projeto. “Calma”, disse eu, “vai dar tudo certo.”.
Pra quê?
Em segundos, seus olhos me fulminaram, enquanto ela gritava: “Essa sua calma me irrita!”.
Tínhamos vinte e poucos anos. O clima ficou esquisito, ela meio sem graça e eu magoada, o que foi resolvido depois de uma conversa.
Naquela tarde, senti na pele a tal da relatividade. Jamais havia imaginado que a calma pudesse gerar raiva.
Em tempos de pandemia, descontrole emocional é o que não falta. Para muitos, ouvir palavras como zen, paz e tranquilidade, pode ativar o nível máximo de irritação. Afinal, como lidar com isso?
Existe um brinquedo chamado João Bobo. Um boneco que fascina as crianças, por sempre voltar ao eixo, independentemente do quanto é balançado. Isso se dá graças ao seu centro de gravidade que fica em sua base.
Assim como ele, você possui o seu. Se não tem conseguido acessá-lo, não é porque nasceu errado e não tem mais jeito, mas talvez porque esteja precisando desenvolver essa habilidade ou apenas encontrar sua própria maneira de se reequilibrar.
O reequilíbrio pode vir de qualquer prática que gere um bem-estar pessoal. Terapia, trabalho, atividade física, culinária, natureza, conversa, meditação, são algumas das muitas. Seja qual ou quais forem as escolhidas, há sempre a possibilidade de ajustes dependendo do que se busca. O ato de meditar, por exemplo, pode ser desinteressante para quem acredita ser preciso ficar parado, sem pensar em nada, mas a meditação também pode ser realizada em meio ao barulho, caminhando, contemplando, sozinho, em grupo ou, até mesmo, pensando!
Quando ocorre um descontrole emocional, é porque tudo em você está pedindo estabilidade. Caso não se escute, o prejuízo mental, físico e psíquico, pode ser grande.
As emoções movem, mas é preciso pausa para processá-las e tornar-se capaz de fazer boas escolhas. A graça está em dançar, ora com o movimento, ora com a estabilidade.
Resumindo, de bobo, o João Bobo não tem nada.