No mês em que se comemora o Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro) e ao considerar o cenário pandêmico em que estamos vivendo há mais de 18 meses no mundo todo, nunca foi tão importante trazer à tona um assunto que deveria ser tratado como qualquer outro quando se fala sobre saúde: a saúde mental.
Apesar de termos evoluído muito nesse assunto, ainda é um tabu falar sobre saúde mental para muita gente. As pessoas costumam associar o tema a “doença mental” e, com isso, acabam se distanciando do que realmente sentem por terem dificuldade de falar sobre suas emoções e seus sentimentos. Mas, assim como o nosso corpo adoece, a nossa mente também pode adoecer.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades.” E para sermos mais específicos, a saúde mental, segundo a OMS é determinada por uma série de fatores socioeconômicos, biológicos e ambientais.
Saúde não é apenas ausência de doença
É importante entender que a saúde mental, assim como a saúde física, não significa apenas ausência de doença.
Ainda vivemos um processo de desconstrução dessa mentalidade de saúde estar associada a ausência de doença. Essa visão foi construída no século XIX, a partir do modelo biomédico, que tem como característica ser centralizada na figura do médico, além de focar nos processos físicos, tais como a patologia, a bioquímica e a fisiologia de uma doença. E, dessa forma, não leva em consideração o papel dos fatores sociais ou da subjetividade individual.
E quando se trata de saúde mental, essa desconstrução é ainda mais desafiadora, pois nossa sociedade ainda tem um olhar estigmatizado e preconceituoso sobre questões relacionadas ao tema.
É urgente e necessário que se amplie o olhar e a forma de lidar com a saúde mental para que não apenas as pessoas, mas também os profissionais de saúde enxerguem o ser humano muito além da doença; que entendam sua integralidade e as influências do ambiente em que vivem e as condições sociais em que se encontram.
O que afeta a saúde mental?
Além dessas questões relacionadas aos modelos de saúde, é importante falarmos também sobre emoções e sentimentos.
Vivemos muitas gerações, ao longo da história, sem darmos atenção ao que sentimos e de que forma lidamos com as nossas emoções e com os nossos sentimentos. Apenas repetimos padrões e seguimos educando pessoas que, ao invés de olharem para dentro e se permitirem sentir, olham para fora e tentam se encaixar em modelos predeterminados de sucesso.
E como é possível ter saúde mental quando pessoas interpretam personagens e usam máscaras para se adequarem às diversas situações e ambientes em que vivem?
Ao tentar se encaixar para atender às expectativas de um mundo frenético que dita regras e que diz o que você precisar ser e ter para ser uma pessoa feliz e de sucesso, é natural que você se distancie cada vez mais de quem você realmente é e do que faz sentido na sua vida.
E é assim, em meio a cobranças externas e internas que as pessoas começam a colapsar e a desenvolver transtornos e doenças que derivam, principalmente da ansiedade e da depressão.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, 30% da população das Américas teve ou terá algum transtorno mental. E, no que diz respeito ao Brasil, segundo a OMS, antes da pandemia do COVID-19 o país já era o mais ansioso do mundo e apresentava a maior incidência de depressão da América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas.
O caminho de volta: mudança de perspectiva
“Nos deram espelhos e vimos um mundo doente”, já dizia Renato Russo. Nos habituamos a viver em um mundo doente e a doença se tornou algo normal. Com isso, a busca pela solução está cada vez mais voltada para a cura das doenças do que para o que as origina.
Mudar a perspectiva e olhar para a saúde mental como a base para a construção de uma sociedade saudável pode ser um caminho cheio de descobertas e de novas soluções para lidar, inclusive com as doenças mentais.
É importante entender que muitos transtornos podem ter origem genética, podem ser oriundos de disfunções orgânicas, além de terem influência de outros fatores internos e externos.
Todo esse cenário nos leva a acreditar que olhar para a saúde mental como prioridade pode auxiliar não apenas na prevenção de transtornos e doenças mentais como também no tratamento mais eficiente deles.
Cultivando a saúde mental
São muitas as ações que a sociedade, através dos governos e dos profissionais de saúde, precisa realizar para que possamos construir juntos um mundo mais saudável em todas as esferas.
Mas, o que você pode fazer para cuidar melhor da sua saúde mental e conseguir viver de uma forma mais fluida e saudável mesmo com os desafios que a vida lhe apresenta?
Crie uma rotina que te proporcione momentos de prazer e de relaxamento, mesmo que seu dia esteja agitado e cheio de tarefas. Mais importante do que cumprir tarefas e ocupar o seu dia com pedidos de outras pessoas, é cuidar de você e das suas necessidades, sejam elas físicas ou mentais. Esse cuidado te proporcionará uma rotina mais leve e mais prazerosa para realizar suas tarefas.
Cultive relacionamentos com pessoas que te agregam. Reserve um tempo nos seus dias para encontros, conversas e trocas com pessoas que te fazem sentir bem. Compartilhar momentos, desafios e ideias podem te ajudar a ter mais leveza, principalmente nos dias mais desafiadores. Rede de apoio é fundamental para nos trazer luz e conforto em momentos de escuridão. Isolamento pode te deixar mais vulnerável a transtornos como ansiedade, por exemplo.
Pratique a presença, seja através de meditação, do yoga, de exercício físico ou de qualquer outra atividade que te ajude a permanecer no momento presente o maior tempo possível. Quando exercitamos a presença nossa mente tende a buscar menos as questões do passado ou as imaginações sobre o futuro, que costumam causar depressão ou ansiedade respectivamente.
Saia da mesmice e busque fazer algo diferente, que te desafie e que te proporcione prazer. Desde praticar um novo esporte até participar de um projeto voluntário abra-se para novas experiências e perceba como elas podem lhe trazer bem-estar e aumentar sua autoestima.
Cuide do seu sono e da sua alimentação. Crie um ambiente tranquilo e rituais como tomar chá, acender um incenso ou uma vela, usar óleos essenciais, ler um livro ou escutar uma música tranquila que te ajudem a acalmar para que seu sono seja tranquilo e renovador. Alimente-se com consciência. O alimento é o combustível para um corpo saudável. Busque alimentos que ajudam a aumentar os níveis de serotonina (hormônio que ajuda a regular o humor, o sono, o apetite, o ritmo cardíaco, a ansiedade, as emoções) circulante no sangue.
A busca pelo autoconhecimento e o desenvolvimento da inteligência emocional são ferramentais essenciais para ajudar no processo de identificar disfunções que podem afetar a sua saúde mental. Entre em contato com as suas emoções e perceba o que elas estão querendo comunicar. Ouça seu corpo, ele te dá muitos sinais ao longo da vida.
E se mesmo ao realizar todas essas ações você ainda perceber que tem algo lhe incomodando e que você não está conseguindo lidar, busque ajuda profissional. Em muitos casos é necessário ter um acompanhamento médico e psicológico mais de perto.