Relato de uma jovem sobre o amor no século XXI

08 de Junho de 2022

Os relacionamentos amorosos do século XXI têm sido marcados pela fragilidade, banalização do amor e dependência emocional. A febre das redes sociais tem afetado diretamente a maneira como uns se relacionam com os outros. O fato de as pessoas considerarem as outras descartáveis pode ser um dos fatores que agrava ainda mais a dificuldade na construção de relacionamentos duradouros.

Hoje é comum a busca por alguém que nos complete, como se fosse uma relação de consumo, uma oferta numa loja. Estamos buscando no outro algo que falta em nós mesmos. Também por esse motivo, é tão difícil achar a pessoa certa, pois o outro não tem como complementar o que nós precisamos.

Banalização do amor

Hoje as pessoas amam tudo: livros, música, pessoas, experiências etc. Usamos a expressão “amo” muito facilmente, o que não condiz com o verdadeiro sentimento. Pessoas se declaram numa sexta à noite, mas sábado de manhã aquilo já não é mais verdadeiro, e o que falou se evapora.

As pessoas se descartam mutuamente por não encontrarem no outro o que falta nelas. Quando uma das duas partes não atende as expectativas procuradas pela outra, a substituição parece ser a alternativa mais fácil. Isso traz insegurança, tornando a busca pelo parceiro perfeito incessante, o que é agravada ainda mais pelas redes sociais.

Redes sociais

As relações estão passando por um momento de frouxidão. E isso se reflete muito no uso excessivo das redes sociais. As relações estão cada vez mais vulneráveis à medida em que parece ser fácil achar novos amigos e parceiros online. Não se luta mais por um relacionamento, pois basta dar um clique e você encontra outras opções disponíveis. A amizade, respeito e amor, no meu ponto de vista, não tem sido valorizado como antes.

As ferramentas virtuais são importantes para nos conectarmos, mas não substituem a verdadeira troca humana - sensação de conversar pessoalmente, sentir a pessoa ao seu lado, enxergar a sua reação real.

Muitas das relações virtuais acabam causando uma ausência de valores que até então sempre foram indispensáveis para um relacionamento. A falta de alguns aspectos importantes na realidade virtual é um problema quando pensamos na construção de um companheirismo saudável. Acreditamos na construção da amizade ou do amor sem muitos obstáculos, e nos decepcionamos quando são rapidamente substituídas por outras como se fossem informações sem valores. O que temos presenciado, cada vez mais, são relações nas quais o amor é vivenciado de uma forma incerta e duvidosa. O desejo pelo outro é muito maior do que a real necessidade de conhecer o outro. Curtidas, seguidores e comentários acabam se tornando mais importantes do que o conteúdo de cada um. As pessoas estão preferindo o engajamento em suas redes sociais e os relacionamentos por mensagens de texto.

Falta de conexão

Apesar de estarmos hiper conectados virtualmente, a desconexão tem sido um dos principais efeitos colaterais dessa era. O imediatismo torna os relacionamentos vazios e frágeis. Pessoas comumente confundem satisfação momentânea com felicidade amorosa. O termo amor líquido representa essa dificuldade das pessoas em manterem relacionamentos de longa duração.

Um dos fatores mais importantes em um relacionamento é o amor-próprio, ou seja, uma alta autoestima. Não conseguimos dar para o outro o que não temos em nós mesmos. Todos nós precisamos de relações e compromissos, mas o principal de começa consigo mesmo. Sem o comprometimento com nós mesmos, é quase impossível assumirmos um relacionamento com um outra pessoa.

A dependência emocional juntamente com a possessividade é também uma questão nas redes sociais. Pessoas cobram umas das outras um posicionamento online como que se estivessem marcando território e dando dono ao objeto de desejo. Cada vez mais percebemos uma necessidade extrema de viver um relacionamento a partir da exposição.

Todos nós precisamos da conexão com outros humanos, fomos programados para isso. Da mesma forma, precisamos manter a conexão com a nossa essência para fazermos melhores escolhas na vida. Contudo, algumas pessoas não conseguem suportar a ideia de estarem sozinhas, principalmente no âmbito amoroso, o que gera uma busca incansável por companhia e uma tendência a feridas emocionais profundas.

A única certeza é a de que somos a nossa principal companhia. Por isso, o ponto de partida para qualquer compromisso com outra pessoa é respeitar-se e amar-se, antes de tudo. Aliás, essa é a única forma de darmos o nosso melhor para outra pessoa.

Ainda que hoje tenhamos as redes sociais à nossa disposição para facilitar as conexões com outras pessoas, elas têm sido um dos grandes vilões quando se trata de construir relacionamentos amorosos. O que falta nas relações de hoje é uma entrega maior e a noção de que o outro não é tão facilmente substituível. Mesmo que sejamos bombardeados de informações e “opções” online, devemos valorizar a construção de uma conexão verdadeira.

Não podemos esperar que o outro seja a solução do que falta em nós. Acredito que esse é o primeiro passo para um relacionamento dar certo. Entender que, aquilo que você procura no outro, na verdade só pode ser achado dentro de você mesmo.