Os transtornos psicológicos, ansiedade e depressão são a segunda onda provocada pela pandemia do Coronavírus. A saúde mental nunca foi tão debatida e mergulhada a fundo como nos últimos dois anos. O que aparentava ser apenas uma apreensão por conta do Covid-19, foi se aprofundando em diversos outros sentimentos e ganhando relevância no cenário internacional.
A saúde mental tem sido uma das grandes preocupações durante a pandemia. O confinamento, perdas, mortes, a crise econômica e isolamento social despertaram emoções que por muito tempo foram suprimidas e deixadas de lado. Esse período trouxe pela primeira vez a possibilidade de um diálogo mais aberto em relação a esse tema que sempre foi considerado um tabu.
O simples fato de falar mais abertamente sobre a saúde mental possibilitou discussões sobre o assunto. Pela primeira vez começou a ser comum pessoas cuidarem da saúde interna, e dar espaço a ela, da mesma forma como se cuida de machucados e lesões físicas. Atletas de diversos esportes abriram mão de competições, modelos renomadas falaram abertamente sobre os desafios enfrentados e cantoras abriram discussões importantes.
Entendendo melhor:
Ainda que muitos avanços estejam acontecendo nesse âmbito, ainda há muito o que ser debatido e melhorado para que a saúde mental tenha um espaço fixo na nossa sociedade. É muito comum ainda pensar em doenças mentais como algo separado do físico, e irreal. Muitas vezes sendo considerados invenções ou farsas.
Essa mentalidade de separação do físico e mental vem perdendo forças. Graças a pandemia, muitas pessoas que duvidavam da gravidade desse processo acabaram se vendo passar por aquilo tudo e tendo sua visão mudada. O isolamento, home office e estudos à distância acabaram contribuindo para que um grande número de pessoas tivesse que lidar com sintomas mais sérios. Seja pela primeira vez, ou como o caso da maioria, agravando sentimentos que já estavam ali antes, esses sentimentos começaram a ganhar destaque na rotina de todos.
Dados:
Em todo o mundo, a procura por profissionais da saúde mental cresceu significativamente. Na Venezuela, por exemplo, houve um aumento de 259% na procura por consultas após a pandemia. No Chile, as licenças médicas por transtornos mentais cresceram em 36%. Na Colômbia o número aumentou em 30%.
No Brasil o aumento dos números também chama atenção. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que, em 2019, 20 mil brasileiros foram afastados do trabalho por conta da saúde mental. Um ano após a pandemia, o número cresceu em 78%. Em uma outra pesquisa divulgada pela Conversion, foi apontado que 73% da população do país foi emocionalmente afetada pelo isolamento.
A OMS acredita que a depressão deve se tornar a doença mais comum até 2030. Nos dias de hoje 322 milhões de pessoas já sofrem com isso, no Brasil esse número chega a 11,5 milhões. O nosso país já é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. E apesar da saúde mental estar ganhando maior visibilidade e consequentemente melhor diagnósticos, grande parte desse número de pessoas ainda não tem a assistência necessária.
O futuro da saúde mental:
O debate sobre a saúde mental têm ganhado destaques importantes nas redes sociais. Contudo, o que precisa melhorar são as políticas dentro das organizações e empresas. É de extrema importância que os locais de trabalho comecem a criar programas e estratégias para melhorar bons hábitos e reduzir o estresse. Combatendo assim de forma eficaz e não apenas paliativa.
O engajamento do tema pela sociedade como um todo é a única forma de mudança significativa nesse tema. É falando desse assunto que podemos acabar com os tabus e preconceitos linkados e enraizados sobre a saúde mental.
Algumas tendências já estão sendo vistas e adotadas por empresas ao redor do mundo. Alguma delas são:
● Inteligência artificial
Os avanços tecnológicos e cada vez mais a utilização da inteligência artificial tem ajudado e melhorado os diagnósticos de doenças mentais. Algumas empresas já têm adotado programas para detectar sintomas de ansiedade em seus funcionários.
● Telepsicologia
Impulsionada ainda mais pela pandemia do Covid-19, os atendimentos à distância ganharam mais espaço e confiança. Agora é mais fácil procurar ajuda, já que a mesma pode ser achada mais facilmente e em qualquer lugar do mundo.
Empresas e organizações já têm tomado medidas para melhorar seus espaços de trabalho. Otimizando os escritórios e proporcionando estruturas que evitem o esgotamento mental. Áreas abertas, locais para descanso, uso de plantas e outros métodos já começam a ser adotados por diversos estabelecimentos.
● Educação sobre saúde mental
Treinamentos e cursos sobre a saúde mental têm sido cada vez mais vistos. Empresas têm oferecido cursos relacionados a esse tema e desenvolvido equipes focadas nessa área. A melhor forma de combater um estigma é falando sobre ele. A educação sobre esse assunto pode abrir muitas portas e gerar muitos benefícios.
Conclusão:
A pandemia nos ensinou que é normal termos fragilidades. Que temos que encarar as emoções e que é tudo bem pedir ajuda quando precisar. Cada um lida com a saúde mental de uma forma diferente, não tem uma receita de bolo a seguir. O que importa é falar abertamente sobre o assunto e entender o que funciona para cada um. Há muito o que desenvolver ainda, mas o caminho que estamos tomando é promissor. À medida que esse tema se torna mais normal, mais à vontade estaremos para falar sobre a nossa saúde mental.