Escuta nas ruas

06 de Abril de 2020

Anos atrás, ao assistir um vídeo onde pessoas seguravam cartazes com os dizeres Free Hugs e distribuíam abraços em lugares públicos, me emocionei. O mesmo aconteceu quando vi na rua um americano em sua bicleta entregando bilhetes que traziam escrito “Sorria”. Mas quando conheci o movimento Free Listening, apontando para a necessidade de escuta no mundo, senti um chamado.

Como psicóloga, apesar de já exercê-la diariamente, sempre tive o desejo de poder ser uma oferta para além do consultório, exatamente por sentir essa necessidade urgente nas pessoas de se sentirem vistas e legitimadas. Então, assim como surgiu o grupo Urban Confession, na Califórnia, e outros pelo mundo, inspirados pelo Free Listening, decidi criar o Escuta nas Ruas, no Rio de Janeiro.

Inicialmente, convidei amigos para sairmos com cartazes oferecendo nossa escuta e, hoje, o grupo é aberto, sendo a única regra o respeito.

Como toda doação, a troca entre os dois lados é rica e intensa. Em inglês, free significa grátis e, também, livre, o que me remete a uma oportunidade de nos livrarmos dos julgamentos que aparecem; de nos permitirmos conhecer outros mundos; de nos deixarmos ser procurados por livre e espontânea vontade; de termos a liberdade de interromper a escuta, caso queiramos ou necessitemos, além de a ação ser voluntária.

Nesses encontros, nos conectamos a outros seres humanos e aos seus mais variados universos, o que nos dá a sensação de estarmos viajando como se estivéssemos de férias.

Quando uma pessoa se aproxima para falar, inevitavelmente, surge uma primeira impressão, que na maioria das vezes, logo cai por terra. Somos, então, apresentados a momentos e a histórias que nos surpreendem, nos emocionam, nos enriquecem e nos transformam.

Por entrarmos em contato com o lado vulnerável e a força da nossa humanidade, muitas vezes não resistimos e nos despedimos distribruindo abraços, ao estilo Free Hugs.

Saber da existência de movimentos que agem em prol de um mundo mais humanizado, é mais do que reconfortante, porque nos mostra a possibilidade de um mundo mais amoroso. Participar deles, é viver o amor e o que há de melhor em nós. É também uma oportunidade de ver a vida por diversos ângulos, de nos sentirmos úteis e capazes e de perceber que estamos todos no mesmo mar, passando por diferentes condições de maré, temperatura e profundidade, mas juntos, interconectados.

Acima de tudo, é sentir a existência de algo muito maior cuidando desse grande oceano.