Zona de conforto: é mesmo confortável?

06 de Outubro de 2021

Viver de acordo com os padrões da sociedade costuma, em algum grau, nos sufocar. Afinal, somos seres individuais com necessidades, desejos e ritmos diferentes, muitas vezes abafados na tentativa de nos adaptar ao coletivo.

Crescemos ouvindo que precisamos nos desafiar o tempo todo, buscar algo mais, performar para ser percebido, aceito e ter sucesso. Mas às vezes, esse “ter que” nos pressiona e nos ameaça, fazendo com que busquemos uma zona de segurança, conhecida como zona de conforto.

Já se percebeu assim?

A wikipidea traz a seguinte definição para ‘zona de conforto’: “uma série de ações, pensamentos e/o comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Nessa condição a pessoa realiza um determinado número de comportamentos que lhe dá um desempenho constante, porém limitado e com uma sensação de segurança.”.

Mas e quando sentimos desconforto numa zona de conforto?

Os dois lados da mesma moeda

Quando falamos em zona de conforto, costumamos pensar naquele universo conhecido por nós, onde nos sentimos confortáveis por sabermos lidar com ele. Acredito que poderia ser chamada também de zona de proteção, uma vez que nela, nos protegemos do desconhecido que tanto tememos. Porém, esta pode vir a nos incomodar profundamente, ao sentirmos que estamos perdendo a oportunidade de experimentar novas situações que nos levem a outro patamar de vida - uma vida que faça mais sentido e que esteja alinhada com a nossa essência.

O outro lado, que talvez você nunca tenha parado para pensar sobre, é aquele que em alguns momentos da nossa caminhada precisamos nos sentir seguros e confortáveis, buscando alguma estrutura que nos permita embarcar na próxima viagem mais consciente e com mais ferramentas.

Tentar sair da zona de conforto a qualquer custo, porque você tem que se desafiar o tempo todo, também pode trazer muito desconforto. Por isso, é importante o autoconhecimento para entender o que é necessário no seu processo que te prepare, de alguma forma, para o próximo desafio.

Conforto vem do latim confortus, que significa fortalecer e que também tem o significado de aliviar a fadiga. Ou seja, é necessário, em alguns momentos da vida, que você tenha conforto para se reestabelecer e seguir em frente com mais energia.

A exigência e a cobrança presentes no mundo muitas vezes nos levam a um desgaste, à procrastinação e até mesmo a condições patológicas, como é o caso do Burnout.

Por isso, a busca pelo equilíbrio é a melhor opção. E para ter equilíbrio é preciso conhecer a importância de cada escolha que fazemos ao longo da vida.

Adaptação hedônica e o papel do desconforto

Você já ouviu falar em adaptação hedônica? É a tendência que nós, seres humanos, temos de retornar a um nível relativamente estável de felicidade, seja diante de eventos positivos ou negativos. Ou seja, nos acostumamos com as situações e nos adaptamos a ela. E por que é importante falar sobre isso? Porque, muitas vezes, é por causa dessa adaptação que tendemos a permanecer na zona de conforto.

O nosso cérebro luta contra novidades e mudanças, porque para que elas aconteçam é necessário um grande gasto de energia. É por isso que tendemos a sentir mais conforto em atividades rotineiras e que são realizadas no piloto automático. Para a realização dessas atividades, o cérebro gasta pouca energia. Esse também é um fator importante para refletirmos sobre a zona de conforto.

Assim como o conforto, o desconforto tem um papel importante na nossa vida. Nem sempre você está consciente das escolhas que faz durante a sua caminhada. Muitas vezes essas escolhas te colocam em situações desagradáveis. E é a partir da dor e do desconforto causados por essas situações, que você sente a necessidade de parar e refletir sobre elas para, então, fazer novas escolhas que te coloquem mais próximo do caminho que faz sentido para a sua alma.

Mas é preciso ficar muito atento para perceber o seu limite para tolerar o desconforto. Ficar muito tempo se sentindo desconfortável pode te lavar a um grande sofrimento, que tende a te paralisar.

Ressignificando a zona de conforto

Se você parar para analisar o que denominamos hoje como zona de conforto, talvez o significado da expressão não condiga com a real situação. Vou explicar melhor: a zona de conforto é considerada, principalmente no mundo corporativo, como aquela zona em que a pessoa não busca novos desafios, não busca novas experiências e apesar de sentir um certo incômodo, continua vivendo nela, já que é conhecida, protegida e, teoricamente, não traz grandes riscos.

Mas por que não viver em uma zona de conforto, que seja realmente confortável? Estar na real zona de conforto é estar se divertindo no processo; é ter momentos de desafios, mas ter também momentos de calmaria para avaliar o percurso e ter a certeza de estar no caminho certo. É ter a liberdade para realizar e ter a mesma liberdade para pausar. Isso acontece naturalmente quando você se reconecta com o seu propósito maior e caminha com a consciência do que está acontecendo, saiba qual é a sua intenção antes de agir e seja congruente na ação.

É comum você sentir uma autocobrança para estar sempre produzindo ou então, no outro extremo, a culpa por não conseguir produzir. Olhando para esses dois extremos, você já parou para pensar que pode existir o caminho do meio? Sim, não só pode como ele existe. A sua intuição te mostra o tempo todo a hora de agir e a hora de parar, de descansar e de respeitar os ciclos. Será que não precisamos respeitar mais o ritmo natural das coisas e entrar no fluxo da vida?

Fluir é confortável.