É comum relacionarmos a palavra vulnerabilidade a um estado de fragilidade ou à fraqueza. Mais comum ainda é a tentativa de evitarmos qualquer situação que nos faça sentir assim. Afinal, desde pequenos somos praticamente “treinados” para passar longe de emoções que geram incertezas e perturbam a nossa segurança, tais quais o medo e a vergonha. Contudo, ao tentarmos evitá-las, acabamos nos privando de muitas coisas boas e conquistas na vida.
O medo de nos tornarmos presa fácil ou alvo de críticas e julgamentos faz com que criemos escudos para nos proteger. Mas esse modo de agir, muitas vezes inconsciente, não passa de uma grande ilusão, porque quanto mais negamos e evitamos aquilo que nos afeta a segurança, mais nos afastamos da nossa essência. Consequentemente, nos afastamos da possibilidade de construir relacionamentos construtivos, autênticos e saudáveis. Tudo pelo medo de sofrer. Mas existe maior sofrimento do que estarmos desconectados de nós mesmos?
Vulnerabilidade: fragilidade ou fortaleza?
Uma das maiores questões da sociedade contemporânea é a dificuldade de estabelecermos conexões verdadeiras. O medo de nos entregarmos e de estarmos disponíveis para o outro tem, cada vez mais, tomado grandes proporções. Gerações mais novas têm enfrentado isso em seus relacionamentos familiares, sociais e amorosos por terem medo de mostrar o que sentem. Medo, medo, medo. Medo de sofrer, de ser rejeitado, de não ser aceito e reconhecido. O que fazer, então? Evitar os sentimentos? Não, o caminho é exatamente o oposto: reconhecê-los, aceitá-los e aprender a lidar com eles.
Brené Brown, uma das pesquisadoras mais conhecidas no mundo nesse ramo, realizou um estudo com centenas de pessoas. Quando começou a se interessar pelo assunto dos relacionamentos superficiais de hoje em dia, ela imaginou que a cura para tal problema viria de uma diminuição da vulnerabilidade dos entrevistados. Contudo, ao realizar entrevistas, ela se deu conta de que um dos quesitos para criarmos laços verdadeiros vem justamente da nossa vulnerabilidade.
Quando compreendemos que estar vulnerável diz respeito a estar no mundo, correndo riscos, presentes em nós mesmos, vivenciando e não só testemunhando a própria história, mudamos o nosso olhar de forma positiva. Estamos falando de nos expormos, de nos expressarmos, de sermos nós mesmos, mesmo sem termos a garantia de que no final as coisas sairão da forma como planejamos. Em outras palavras, baixamos a guarda e deixamos de gastar tanta energia tentando nos proteger, permitindo nos abrir para novas experiências. Com isso, ganhamos mais coragem para ser quem de fato somos, o que facilita o encontro com o nosso propósito. Ainda que o sentimento em si de vulnerabilidade possa não ser agradável, ele é essencial e necessário para a nossa integridade e evolução pessoal.
Coragem
A coragem – agir com o coração - anda lado a lado com a vulnerabilidade, pois ser autêntico e não esconder imperfeições requer muita coragem. É ela que possibilita que as pessoas mostrem quem realmente são. Para se conectar com o outro é necessário deixar de lado o que se entende que deveria ser e abrir espaço para ser o que realmente é. Se não somos verdadeiros com nós mesmos, fica difícil nos conectarmos com o outro.
Na vida, coisas incríveis acontecem quando passamos por cima do medo de sermos julgados, isto é, quando não damos importância à preocupação de corresponder às expectativas dos outros. Não é fácil, pois a todo momento estamos sendo julgados; isso faz parte do ser humano. Resta-nos aprender a lidar com os julgamentos, a começar por não sermos extremamente julgadores de nós mesmos.
O medo em excesso nos paralisa ou nos impede de enfrentar a vida de forma saudável. Ao mesmo tempo, o medo é nosso amigo quando nos previne de algo que possa realmente nos prejudicar. Por isso, é fundamental desenvolvermos a nossa inteligência emocional, para sabermos diferenciar em que momentos devemos respeitar e escutar o que o medo tem a nos dizer e em que momentos precisamos superá-lo.
Colocando em prática
Devemos levar em consideração o fato de que a nossa sociedade exerce uma influência tremenda na forma como nos comportamos. Crescemos ouvindo “verdades” em forma de julgamentos e críticas e se não sabemos lidar com as emoções negativas que surgem, podemos acabar perdendo o controle de nossas vidas para elas.
A busca pela perfeição parece ser o combustível da sociedade atual, pois acreditamos que ao atingi-la não seremos mais criticados ou culpados. Doce ilusão. Não existe perfeição humana. A busca pelo perfeccionismo nada mais é do que um mecanismo de defesa, um escudo para nos proteger, o que nos afasta de nós mesmos e dos outros.
Quando damos espaço à nossa vulnerabilidade, deixamos que a autenticidade ganhe espaço. Ao expressarmos nossos sentimentos e emoções criamos um campo fértil para nos conectarmos com outras pessoas. Ser aceito, reconhecido e respeitado é uma necessidade humana, e quando nos desarmamos abrimos possibilidade de laços, inclusive, com aqueles que um dia já nos julgaram também.
Conhece-te a ti mesmo
Num mundo tão complexo como o atual, testemunhamos muito sofrimento nas relações humanas. Nos aprisionamos por não aceitarmos e respeitarmos a nossa vulnerabilidade, e por não cultivarmos o amor-próprio, a empatia e a compaixão, entre outros. Não é à toa que temos ouvido tanto sobre a importância de cuidar da saúde mental. Apesar de tanto avanço e conexão tecnológica, vemos muitas pessoas desconectadas de si e das outras.
Lembrando: precisamos ser corajosos. Em outras palavras, precisamos agir pelo coração e usar a mente ao nosso favor. Para isso, nada melhor do que o autoconhecimento. Incertezas sempre farão parte de nossas vidas, portanto a forma como lidamos com a nossa vulnerabilidade é o que vai nos fazer escolher entre viver atrás de um escudo ou ser livre para demonstrar e sentir o nosso verdadeiro eu.