Felicidade no trabalho é possível?

16 de Julho de 2021

É muito comum termos um olhar compartimentado em que vida pessoal está de um lado e trabalho do outro. Crescemos ouvindo que não devemos misturar trabalho com vida pessoal. Mas será que é possível essa separação? Na perspectiva de uma sociedade capitalista, que dita as regras e que acredita que só será bem-sucedido quem se encaixar nelas, talvez faça sentido. Nesse modelo em que as pessoas vivem trocando de máscara para se adequarem a ambientes, grupos e à própria sociedade, existe a ilusão de que somos muitas pessoas em uma só. E nesse contexto, compartimentamos também a felicidade, sendo ela diferente na vida pessoal e no trabalho, como se a felicidade pudesse ser ativada e desativada.

Mas o que é a felicidade? Definir felicidade limita o que ela realmente significa. A busca por ela talvez seja o principal obstáculo para encontrá-la. Ser feliz é uma escolha, como tudo na vida. Não está além do horizonte, no final do arco íris ou na sua próxima conquista. A felicidade está nas escolhas que você faz todos os dias da sua vida, das mais simples às mais complexas. É um estado de ser que você carrega por onde quer que vá, seja no ambiente familiar, com os amigos, no trabalho ou em qualquer outra situação. A felicidade é independente. Não deve depender de nada nem de ninguém para acontecer.

E trabalho? Você sabe qual é a origem dessa palavra? Derivada do verbo trabalhar, a palavra vem do latim tripaliare, que é interpretado como torturar e se refere a um artefato de tortura usado pelos antigos romanos para castigar os réus ou condenados.

Se considerarmos que histórica e culturalmente muitas gerações viveram acreditando que trabalho é algo associado à tortura, à peso, à martírio e que precisamos trabalhar para sobreviver, como associar trabalho à felicidade?

Ressignificando o trabalho

O primeiro passo para que trabalho e felicidade possam caminhar juntos é a mudança de perspectiva. Ao buscar um novo olhar, você pode encontrar um sentido diferente ao que sempre atribuiu ao trabalho.

O trabalho precisa ser incorporado à vida como algo que pode proporcionar prazer e satisfação. Mesmo que em algum momento você precise trabalhar com algo que não é exatamente o que deseja, é possível encontrar sentido apenas mudando o seu olhar. Talvez o trabalho atual possa ser uma ponte que vai te levar até o outro lado. E do outro lado a vista é diferente. E, muitas vezes, você precisa dessa nova vista para abrir a mente e se conectar com o que realmente faz sentido e toca o seu coração.

Cada trabalho que você realiza ao longo da vida tem uma função, te traz novas ferramentas, amplia o seu olhar e te prepara para cumprir o seu propósito maior.

Através desse novo olhar, o trabalho deixa de ocupar um lugar de fardo pesado para ser algo que possibilita o seu aprendizado, a troca de experiências, o compartilhamento de ideias, consequentemente, a sua evolução.

Trabalho como identidade

Como diz Gonzaguinha na música “Um homem também chora (Guerreiro Menino)”, “um homem se humilha se castram seu sonho; seu sonho é sua vida e vida é trabalho. E sem o seu trabalho o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata.”

Essa letra reflete um olhar sobre trabalho que a sociedade nos impôs e que, mesmo que tenhamos vivido muitas transformações, ainda carregamos como um fardo.

Quando te perguntam “quem é você?”, o que, geralmente, você responde? Provavelmente fala seu nome e em seguida sua profissão, certo? Se damos tanta importância ao trabalho, à profissão, ao ponto de nos identificarem quase como um sobrenome, por que não damos a mesma importância às nossas escolhas nessa área da vida?

A maioria das pessoas vive uma vida inteira tão distante de sua essência, que precisam encontrar do lado de fora padrões com os quais se identifiquem para serem identificadas, aceitas e respeitadas.

O autoconhecimento e a felicidade no trabalho

Mais uma vez trago o autoconhecimento como bússola, que vai te indicar o melhor caminho a seguir, as melhores escolhas a fazer.

De que forma você aprendeu a fazer as suas escolhas? Em algum momento da sua vida alguém te ensinou a se conectar com a sua essência? Os seus sonhos e desejos foram escutados e valorizados pelas pessoas importantes na sua vida?

Ao responder essas perguntas você terá mais clareza sobre o trabalho que realiza hoje. Se as suas escolhas foram baseadas nas visões dos seus pais, dos seus professores, da sociedade, é provável que você trabalhe com algo que não tenha conexão com seus reais desejos. E por isso, fica mais desafiador se sentir feliz com o seu trabalho. Mas, se você busca o autoconhecimento e através dele identifica seus valores e encontra um propósito de contribuição para o mundo, um leque de possibilidades se abre e você pode descobrir que aquele sonho, aquele “dom” que você tinha quando era criança pode se transformar em um trabalho que te realize, que contribua para a construção de uma sociedade melhor e que, consequentemente, te proporcione a tão sonhada felicidade.

Como diz Tal Ben Shahar, professor da Universidade de Harvard, “se trabalho em algo que é significativo pra mim, se sinto que é importante, se creio que faço a diferença e se, além disso, desfruto do meu trabalho e experimento prazer, então meu trabalho me traz felicidade.”