Com as cidades esvaziadas migramos em massa para a banda larga. Nossas distrações externas foram sequestradas, alterando dinâmicas e humores, na tentativa de sobrevivermos ao comportamento de um vírus que apenas cumpre o seu papel, o de se replicar.
Os panoramas gerados não poderiam ser diferentes, num mundo cheio de dualidades: tempo a mais para uns, a menos para outros; sonhos desaparecendo, outros se realizando; ganhos e perdas totais; tranquilidade e desespero; protegidos e ameaçados; home office e campo de batalha.
Além do desafio de uma adaptação à nova realidade, enfrentamos outro tão intenso quanto - conviver com nós mesmos e com o que construímos até agora. Em todos os cenários, escapar da montanha-russa de emoções se torna inevitável.
Muitos a negam, paralisam, se desesperam, acusam, se deprimem ou se conformam, sem condições de extrair algo positivo desse momento histórico, enquanto outros acolhem suas emoções afloradas, à medida que vão se dando conta de como levam suas vidas.
Nem sempre é fácil encarar uma montanha-russa, porque, afinal, ela nos tira do eixo e pode provocar inúmeras reações desagradáveis. Mas quanto mais consciência temos do que vamos enfrentar e de que maneira o faremos, mais instigante e prazerosa pode ser essa aventura, inclusive diante do inesperado. Portanto, viva o autoconhecimento.
Um vírus, democraticamente, nos expõe o resultado de nossas escolhas, tendo sido elas, conscientes ou não, e nos pressiona à uma revisão pessoal e coletiva da nossa existência.
As respostas não virão enquanto estivermos chacoalhando dentro carrinho. Precisamos sair dele e observar a montanha-russa do lado de fora. Só assim, podemos avaliar sua estrutura - como foi erguida, com que material, se oferece segurança, se faz sentido manter o mesmo trajeto, os loopings e, checar um ponto fundamental, se seus movimentos geram alegria.
Está em nossas mãos.
Aproveitar esse período, sem distrações, para encararmos a montanha que hoje nos assusta, aumenta incrivelmente as chances de encontrarmos em nós mesmos o que buscávamos lá fora.
Relembrando o pensamento de Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”.