A violência psicológica dificilmente é enxergada. Ou por acontecer, muitas vezes, de forma velada, ou por não estarmos conscientes e atentos ao que nos agride.
É normal termos em mente agressões físicas quando pensamos em atos violentos. E hoje, apesar de estarmos em uma era onde a saúde mental tem ganhado cada vez mais destaque, muitos ainda têm dificuldade em ver o abuso psicológico como uma forma de agressão.
Costumamos ouvir o termo “personalidade explosiva” como forma de justificativa para essas ações. Mas o que muitas pessoas não entendem é que essa forma de violência é tão tóxica e às vezes até mais prejudicial à saúde do que uma lesão física. Um soco leva alguns dias para sarar, contudo, as feridas emocionais são muito mais profundas e podem levar anos para cicatrizar.
A violência psicológica pode acontecer em qualquer tipo de relacionamento -. entre casais, familiares, amigos, colegas de trabalho. Até mesmo na relação com desconhecidos na rua ou nos perfis das redes sociais.
Entenda melhor a Violência Psicológica
A violência psicológica se dá de diversas formas. Muitas delas passam despercebidas, e as mais evidentes são xingamentos, humilhações e chantagens emocionais. Quando se trata de relacionamentos entre casais, fazem com que a vítima se sinta presa e apegada ao opressor. Independente da forma usada, os estragos na saúde mental da vítima podem ser enormes.
Algumas atitudes também podem ser conhecidas e mascaradas como ciúme extremo, excesso de cuidado, temperamento forte e desentendimentos. Esse é um dos motivos que faz com que muitas vezes a vítima permaneça num relacionamento tão longo com o agressor.
Outro fator que leva as pessoas a ficarem presas nessas relações é a forma gradual com que essa violência ocorre. Muitas vezes elas começam de maneira sutil, com comentários aparentemente inocentes e provocações. Ao longo do tempo a vítima acaba baixando a guarda e acaba acreditando naquilo que é falado para ela. Isso gera uma relação de submissão.
Formas mais comuns de abuso psicológico
O abuso psicológico costuma apresentar diversas facetas com algumas características mais violentas que outras, porém todas imprimem riscos à saúde mental da vítima. E muitas vezes, fica até difícil apontar a personalidade do agressor como sendo o desencadeador da situação.
Quando a relação entre agressor e vítima vem de um casal, a percepção da violência é ainda mais complexa, à medida que existem sentimentos bons naquele relacionamento. Pode ser complicado separar o carinho e admiração existentes pelo opressor no momento das agressões. É o famoso “morde e assopra”. Isso acaba fazendo com que demore mais tempo para aceitar que o comportamento do companheiro é uma violência.
Exemplos de agressões
Ameaças: o violentador usa tipos de ameaça para que a vítima sinta que pode perdê-lo a qualquer momento e, que de alguma forma, sem ele a vida dela vai por água abaixo e não terá mais sentido.
Humilhação: esse tipo de agressão ocorre tanto em locais públicos na frente de outras pessoas como também na intimidade da relação. É comum ver os agressores diminuindo a vítima diante de pessoas e enaltecendo a si mesmos.
Manipulação: existem diversas formas de usar esse tipo de agressão. A mais conhecida e vista é a chantagem emocional. Essa distorção da realidade acaba fazendo com que a vítima se apoie no opressor e sofra cada vez mais agressões.
Gaslighting: é uma forma de abuso psicológico na qual informações são distorcidas ou omitidas para favorecer o agressor ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de si mesma.
Isolamento social: Essa forma é bastante usada para que a vítima não se dê conta que está presa num ambiente nocivo. À medida que o agressor afasta a pessoa de seus ciclos de amizade e familiares, ela acaba não conseguindo identificar o que está acontecendo no seu relacionamento. Ficando cada vez mais à mercê do agressor.
Resultados das agressões
A repetição da violência psicológica acaba gerando um grande impacto na autoestima e um sentimento de medo em relação ao agressor. A percepção negativa dela mesmo acaba enfraquecendo-a e impedindo que ela termine essa relação. Sentimentos de incapacidade e até mesmo julgamentos de merecimento em relação a sua própria felicidade começam a vir à tona. A vítima começa a se anular e se isolar das pessoas à sua volta, criando um laço ainda maior com o agressor. Ela sabota sua própria felicidade para satisfazer as vontades do opressor.
Diversas esferas de sua vida são afetadas. O rendimento no trabalho cai, acaba não ligando mais para sua aparência física e não tem vontade de fazer planos para o futuro. E muitas vezes quando está vivendo com o agressor, acaba não querendo mais sair de casa e vê sua vida social desaparecer.
O mais preocupante disso tudo, é que ao longo prazo a violência psicológica pode gerar ansiedade, síndrome do pânico e até mesmo depressão. Com seu estado emocional fragilizado, fica quase que impossível para ela cortar relações com o agressor, já que seu valor como pessoa está tão abalado.
O papel da terapia
O apoio, seja ele profissional ou de amigos e familiares, é fundamental para que as vítimas consigam enxergar o que está acontecendo e se livrarem de quem as está fazendo mal. A terapia tem grande utilidade nesses casos, já que a orientação de um psicólogo pode ser a chave necessária para sair desse cenário.
Um dos objetivos da terapia é auxiliar as pessoas a terem mais clareza e a compreenderem a dinâmica de seus relacionamentos. Como isso, sob um novo olhar, torna-se possível, por exemplo, o distanciamento de seus opressores, o término de relações tóxicas e a cura de mágoas profundas vindas de relacionamentos passados. A terapia oferece um ambiente seguro para resgatar e trabalhar a autoestima abalada durante o período de violência.
É na terapia também onde aprendemos a estar atentos aos sinais do que precisamos curar dentro de nós. As dores emocionais são muitas vezes mais profundas do que as físicas e podem deixar sequelas por muito tempo, interferindo diretamente na maneira como enxergamos o mundo. Quando sofremos algum dano físico, como uma perna quebrada, logo buscamos um profissional que resolva o problema, mas infelizmente não damos ou não sabemos da importância de procurar alguém especializado que nos ajude a resolver nossas angústias.
Então, lembre-se: surgiu um incômodo, procure ajuda, porque você vale muito!