Um vírus surge em algum canto do planeta e se espalha chacoalhando a estrutura global. Não, não é filme, é vida real.
2020 começou gripado levando a população a oscilar entre o descrédito e o desespero, fazendo com que a maior parte se recolhesse em suas respectivas casas como medida de proteção.
Se o isolamento social tivesse durado apenas duas semanas, teríamos experimentado um período de férias coletivas e a vida já teria voltado ao “normal”.
Só que não.
Seja qual for o significado pessoal dado à palavra casa, no momento, é certo que vem ganhando uma nova roupagem, independente da nossa vontade.
O que pertencia ao mundo externo, a cada dia adentra mais a nossa moradia e o que se escondia no mundo interno, revela o seu avesso.
Uma das fortes características do ser humano é a capacidade de adaptação e transformação. No momento, a necessidade aciona a nossa criatividade e adiciona à casa o status de escritório, escola, consultório, academia, templo, cinema, parquinho, restaurante, entre outros. Da mesma forma, escancara nossas habilidades e inabilidades relacionais, domésticas, profissionais ou sociais.
No mundo interior, não há mais espaço para disfarces, pelo menos, para que estes perdurem. Não há como usar máscaras estando mergulhados continuamente na realidade, sem escapes. Isso intensifica luzes e sombras e, é claro, afeta a nossa comunicação com o mundo externo.
A questão do que é privado e público já era algo bastante discutido com o advento das mídias e redes sociais, mas agora, como dizem por aí, o buraco é mais embaixo.
Mesmo se dando de forma virtual, não temos ferramentas suficientes para gerar a ilusão gerada anteriormente de que vivíamos em mundos perfeitos. Isso, perturba muita gente.
Nesse emaranhado, há os que negam jogando a culpa no outro, há os que se desesperam não enxergando saída e há aqueles que entendem o fato como uma oportunidade única de aprendizagem e de transformação.
E as casas, sem se abalarem, apenas nos perguntam: “E agora José? De qual ponto você escolhe observar?”.
Seja qual for a resposta, ela determina o externo e o interno que você viverá.