A tecnologia é parte fundamental na vida da grande maioria das pessoas. Mesmo que ainda exista uma parte da população que não tenha acesso à internet, a conexão virtual é um dos principais pilares da sociedade moderna. Crianças estão cada vez mais cedo tendo acesso a celulares e aparelhos eletrônicos, desenvolvendo desde cedo uma relação de dependência com a conectividade.
Uma coisa é certa, nunca mais viveremos sem a tecnologia. Estamos testemunhando uma evolução tecnológica cada vez mais voraz, e isso não é uma moda passageira, pois se tornou um facilitador do nosso cotidiano. A questão é entender e saber identificar a linha entre o seu papel positivo e o ponto em que as coisas começam a fugir do controle.
Yuval Harari descreveu sabiamente o momento em que vivemos: “As pessoas vivem vidas cada vez mais solitárias num planeta cada vez mais conectado”. Estamos extremamente conectados uns com os outros através de aplicativos e redes sociais, mas acabamos, em grande parte, perdendo a conexão com nós mesmos.
Conexão ou desconexão?
A grande questão da conectividade nas redes sociais é o quanto podemos ser absorvidos sem nos darmos conta do desequilíbrio que isso pode gerar, chegando ao ponto de nos esquecermos de nós mesmos, não percebendo nossas reais necessidades. Há tempos, muito se prioriza o ter e o fazer – ter dinheiro, viajar, produzir, ter uma imagem, ter um padrão de corpo etc. Nessa busca incessante, acabamos deixando de ser e de sentir.
Apesar de parecermos extremamente conectados uns aos outros, uma vez que com um simples toque podemos falar com alguém do outro lado do mundo, muitas dessas conexões tendem a ser fracas e superficiais. Mas como nos conectar profundamente e com qualidade quando não estamos conectados com a nossa própria essência?
Um toque, um carinho, comunicação olho no olho, expressão de afeto… muitas vezes chega a ser desconfortável para aqueles habituados e imersos no mundo digital. Somos bons em registrar e declarar nossos sentimentos através dos aparelhos (nem sempre!), mas quando se trata do ao vivo, não tem sido tão fácil assim.
Um facilitador
Não podemos ignorar o fato de que a internet e a conectividade agregam muitos pontos e facilitam a nossa vida, principalmente em relação à distância física e geográfica. Não dependemos mais do correio para receber cartas importantes ou de ligar a TV no horário do jornal para saber as notícias que aconteceram no dia. Hoje tudo chega praticamente no instante dos fatos. Ligamos através de vídeo-chamada para aqueles que estão longe fisicamente, como acontecia no desenho animado Os Jetsons, nos anos 70. Quando poderíamos acreditar que essa tecnologia se tornaria realidade?
Temos o mundo na palma das nossas mãos. Contatos, agenda de compromissos, banco, aplicativos de compras, socialização… É realmente um universo muito tentador, mas e nós? Sabemos nos manter íntegros? Em outras palavras, sabemos entrar e sair desse mundo sendo fiéis à nossa essência?
Onlin/offline
Muitos buscam uma vida online como uma fuga para não ter que lidar com problemas que a vida traz. Contudo, isso é uma armadilha para a saúde mental. Abrigar-se no mundo online esquecendo-se do mundo real dificilmente funciona.
Nós, seres humanos, somos seres sociais. Temos um anseio por conexão emocional com outras pessoas. Mesmo aquelas que parecem ser mais fechadas e preferem ficar sozinhas, têm uma necessidade básica de sociabilização. Quando não temos isso, nossa saúde mental fica abalada. Por outro lado, podemos ter uma vida social ótima, muitos conhecidos, amigos e familiares, mas se não tivermos contato real com nós mesmos isso também não vale de nada, pois não conseguiremos nos relacionar verdadeiramente com os outros.
Os momentos com nós mesmos também são parte importante para uma saúde mental em dia. Estar conectado virtualmente o tempo todo é estar desconectado de si.
Precisamos de ferramentas para nos conectarmos com nossas próprias experiências. Para isso, precisamos expandir nossa consciência para alcançar o equilíbrio. É importante estarmos atentos ao nosso interior, ao nosso corpo, às nossas necessidades e limites internos. O autoconhecimento é um caminho essencial para esse processo.
Ainda que a realidade virtual seja parte importante de quem somos como sociedade, não podemos ficar dependentes dela e confundir com o real. Essa dependência já pode ser sentida em alguns aspectos do desenvolvimento humano, como a dificuldade afetiva, falta de sensibilidade; atenção no momento presente e desconexão com a nossa essência. Não é de se espantar a imensa quantidade de pessoas com ansiedade, depressão e outros transtornos mentais.
A tecnologia é maravilhosa e é o que possibilita a nossa evolução como espécie humana, mas precisamos estar atentos ao fato de que ela está a nosso serviço e não nós a serviço dela. Afinal, a conexão mais importante não precisa de wifi e não está disponível no seu celular, ela acontece dentro de você!